A Pedra e o Caminho

Era uma vez uma bela e grande pedra que a água molhava durante largo tempo do ano. Depois de a água desaparecer, a pedra ficou a descoberto num lugar bastante alto, precisamente onde acabava um bosquezito cheio de sombra. Dali, ela dominava o caminho pedregoso que corria mais abaixo. Faziam-lhe companhia algumas frescas e aromáticas ervinhas salpicadas de flores.
Um dia, ao olhar para o caminho sobre o qual, para o tornar mais sólido, tinham atirado muitos calhaus, vieram-lhe desejos de se deixar cair em cima deles.
Assim pensando, a pedra mexeu-se e, rolando pela encosta abaixo, terminou a sua rápida corrida precisamente no meio dos calhaus cuja companhia tanto desejava.
Pelo caminho passava tudo: carros com rodas de ferro, cavalos ferrados, camponeses de botas cardadas, rebanhos, etc. Depressa a bela pedra ficou em apuros: um, golpeava-a, outro pisava-a, outro arrancava-lhe um pedacinho; às vezes, ficava suja de barro, outras emporcalhada pelo esterco dos animais.
Olhando para cima, para o sítio donde tinha vindo, a pedra suspirava, chorando por ter perdido aquela solidão e desejando, mas em vão, a paz tranquila de que, então, gozava.
Esta fábula dirige-se aos do campo, onde podem viver em paz, no silêncio e na verdura da paisagem, vêm cegamente para a cidade, misturar-se com as gentes carregadas dos piores males.

Leonardo da Vinci, in "Fábulas"

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