Poema da Semana

A roupa envolve-nos
a paragem do mar
cresce contigoa língua e o sentido tudo anda
tão ocupado tão cansado e destruído
que a roupa em
torno morre como um foco de ruído

O movimento cerca esta mudez
o mar desidratado é o abismo
onde revives

Viste os vales instáveis do mar
mas para que é perguntar senão que se fez de ti

O fogo sob as vozes que não ouves
A língua vive ainda?
Inscrevo na memória tumefacta
mais uma imagem

Esses corpos nascem
O que posso dizer para cobri-los?
Ouves? Está comigo
a mortalidade da tua vida
Como falar contigo?
Mas o som
produzido era tanto
que as cordas se formavam com a sua saída
retomavam a forma destruída
enquanto
tudo o que te dizia dividia
um som tempestuoso

Na ocasião da queda
desses algum
olha as áreas correspondentes no mar
volta transforma-se
é um sinal de
contradição e sob a chuva contínua de relâmpagos revive

Porém o som inibe-te prossegues
sem segurança o canto a turva cítara
vence-te não o canto repetido
Essas cordas do peito já distensas
submetem-se ao silêncio poderias
escolhê-las porém sempre repetes
os nomes desses corpos a mudez
intimida-te assim a poesia
nasce com o rumor dos próprios corpos
com o bater dos nomes entre os ombros
tão dóceis mar de músculos
mudoso coração do corpo
repetindo os nomes turvos
Como é possível termos esquecido a linguagem?

Comparámos os corpos
Se os descrevo
agora que deixámos de falar
esqueço a igualdade e nela cessa
a possibilidade de falar

É um erro a cidade alguma vez a
cantaste?Mas já não é possível a verdade é que
definitivamente nela morres

Por isso escolherás o teu estilo
de novo por palavras errarás
Na praia exterminada não pudemos
cantar a liberdade
sobre o teu corpo correm turvas asas
de entre as pedras
levantas a cabeça enquanto cais

Depois a roupa gera e espalha a escuridão
cada corpo isolado se transforma
sob as asas que
o cobrem

Desencontramo-nos
a terra recomeça a deter-te
preciso de dizeres
se teu nome

Mas não ouças a minha fala transformada


Gastão Cruz

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