Pedro das Malasartes
Uma das personagens mais consistentes e fascinantes da literatura oral portuguesa é, sem dúvida o Pedro das Malasartes.
No decorrer do projecto Viver Solidário, no qual abilioteca também participa, temos podido contactar directamente com a narração de algumas das suas desventuras, das quais aqui deixamos um relato para aguçar o gosto.
Para mais informações sobre o projecto e/ou seus resultados, pode contactar abiblioteca pelo 269450082 ou pelo mail da biblioteca: biblioteca@cm-grandola.pt
O patrão mandou o Pedro ir buscar uma bilha de água à fonte.
Farto da mesma faina de todos os dias, resolveu atar uma corda à volta da fonte.
Ao vê-lo naqueles preparos, pegou ele na bilha e veio a explicar ao Pedro como tinha que fazer.
No dia seguinte mandou-o ir apanhar um feixe de lenha.
Pegando na mesma corda do dia anterior, começou a atar os pinheiros um a um.
Ao ver aquilo, o patrão perguntou-lhe o que é que estava afazer.
- Para não vir todos os dias acarretar com lenha, levo já os pinheiros todos.
O patrão, explicou-lhe que assim não era negócio e agarrando num feixe de lenha foi para casa, seguindo-o o Pedro bem de perto.
Ao ver que nestes negócios não se amanhava, mandou-o ir tomar conta das cabras.
Ao encontrar um amigo seu, convidou-o para juntarem os rebanhos enquanto se divertiam. Tendo um queijo fresco na mão, apanhou uma pedra e disse para o colega:
-Se conseguires fazer isto que vou fazer, dou-te a minha parte do rebanho. – e apertou o queijo fresco, sendo que ele começou desde logo a sair-lhe pelos dedos.
O companheiro agarrou uma pedra no chão e por muito que a apertasse, não conseguiu fazer sair nada.
Ao fim do dia, chegou hora de apartarem as cabras, que entretanto já se tinham misturado.
- Sabes quais são as tuas? – perguntou o Pedro já com alguma no goto.
- Nã, não as conheço pela cara.
- Pois as minhas são as que têm um buraquinho por baixo do cú.
Claro está que ficou com as cabras todas.
Ao fim de uns tempos foi despedido.
O patrão foi então andar pela aldeia à procura de um moço para o substituir.
Ao vê-lo chegar à aldeia, disfarçou-se e pôs-se à porta à espera.
Ao passar por ele, perguntou-lhe o nome.
-Chamo-me Pedro, senhor.
-Ai Pedro não. Que já lá tive um a trabalhar e Pedro não. Vou procurar outro moço.
Assim que o patrão virou esquina, oPedro foi logo a correr para o próximo poial, trocando de roupa. O patrão abordou-o para ir trabalhar.
- Mas como é que se chama?
-Chamo-me Pedro, senhor.
- Então Pedro não. Já tive um a trabalhar comigo e não gostei. Vou procurar outro moço.
Mais uma vez, ao ver o patrão virar a esquina, o Pedro trocou novamente de roupa efoi a correr para se pôr de novo no caminho do patrão.
-Bom dia meu menino! Como te chamas?
- Pedro, meu senhor. Chamo-me Pedro.
-Então, mas nesta terra todos os moços se chamam Pedro?
- Sim, meu senhor. Isto por aqui há muitos poucos moços e todos nós nos chamamos Pedro.
- Pois vens tu então para trabalhar comigo.
Ao chegarem ao monte, o patrão resolve fazer-lhe um teste para garantir que seria bom funcionário e não faria disparates.
- Olha diz-me lá uma coisa: o que é que eu sou?
- É um homem, respondeu o Pedro.
- Não. Sou um papa-cristo. E oque tenho vestido?
-Umas calças.
- Não, são umas tiras e viras. E calçado?
- Sapatos.
- São sarapitacos. O que é que está aqui ao meu lado?
- Isso é um gato.
- São papiratos. E ali a arder o que é?
- Aquilo é o lume, senhor.
- Aquilo são crianças, meu menino. E naquela quarta, o que é?
- Água.
- Aquilo é abundância. E ali.
- Ali estão os chouriços.
- São padres e internos. E ao lado, o que está?
- Linguiças.
- São almas e santos. E onde me vou deitar, o que é?
- É uma cama.
- Não! São folgas vianas. Não te esqueças destas coisa que amanhã pela manhã já tas pergunto para ver se podes ficar com o trabalho.
Com medo de se esquecer do que o patrão lhe tinha ensinado, o Pedro nem sequer pregou olho.
Pois estando sem nada que fazer, resolveu pegar fogo ao rabo do gato. Ao ver o gato assanhado resolveu esconder as linguiças dentro do alfurge que tinha nas costas.
Quando o patrão acordou, assustado com tudo o que se estava a passar, ouviu o Pedro dizer:
Levanta-te oh papa-cristos debaixo das folga-vianas, veste as tuas tiras viras
E calça os teus sarapitacos e acode ao teu papiratos que vai com as crianças. Acode-lhe pois com abundância e fica cá com os padres e internos que eu vou com as almas santas.
E em dizendo isto saíu porta fora.
No decorrer do projecto Viver Solidário, no qual abilioteca também participa, temos podido contactar directamente com a narração de algumas das suas desventuras, das quais aqui deixamos um relato para aguçar o gosto.
Para mais informações sobre o projecto e/ou seus resultados, pode contactar abiblioteca pelo 269450082 ou pelo mail da biblioteca: biblioteca@cm-grandola.pt
O patrão mandou o Pedro ir buscar uma bilha de água à fonte.
Farto da mesma faina de todos os dias, resolveu atar uma corda à volta da fonte.
Ao vê-lo naqueles preparos, pegou ele na bilha e veio a explicar ao Pedro como tinha que fazer.
No dia seguinte mandou-o ir apanhar um feixe de lenha.
Pegando na mesma corda do dia anterior, começou a atar os pinheiros um a um.
Ao ver aquilo, o patrão perguntou-lhe o que é que estava afazer.
- Para não vir todos os dias acarretar com lenha, levo já os pinheiros todos.
O patrão, explicou-lhe que assim não era negócio e agarrando num feixe de lenha foi para casa, seguindo-o o Pedro bem de perto.
Ao ver que nestes negócios não se amanhava, mandou-o ir tomar conta das cabras.
Ao encontrar um amigo seu, convidou-o para juntarem os rebanhos enquanto se divertiam. Tendo um queijo fresco na mão, apanhou uma pedra e disse para o colega:
-Se conseguires fazer isto que vou fazer, dou-te a minha parte do rebanho. – e apertou o queijo fresco, sendo que ele começou desde logo a sair-lhe pelos dedos.
O companheiro agarrou uma pedra no chão e por muito que a apertasse, não conseguiu fazer sair nada.
Ao fim do dia, chegou hora de apartarem as cabras, que entretanto já se tinham misturado.
- Sabes quais são as tuas? – perguntou o Pedro já com alguma no goto.
- Nã, não as conheço pela cara.
- Pois as minhas são as que têm um buraquinho por baixo do cú.
Claro está que ficou com as cabras todas.
Ao fim de uns tempos foi despedido.
O patrão foi então andar pela aldeia à procura de um moço para o substituir.
Ao vê-lo chegar à aldeia, disfarçou-se e pôs-se à porta à espera.
Ao passar por ele, perguntou-lhe o nome.
-Chamo-me Pedro, senhor.
-Ai Pedro não. Que já lá tive um a trabalhar e Pedro não. Vou procurar outro moço.
Assim que o patrão virou esquina, oPedro foi logo a correr para o próximo poial, trocando de roupa. O patrão abordou-o para ir trabalhar.
- Mas como é que se chama?
-Chamo-me Pedro, senhor.
- Então Pedro não. Já tive um a trabalhar comigo e não gostei. Vou procurar outro moço.
Mais uma vez, ao ver o patrão virar a esquina, o Pedro trocou novamente de roupa efoi a correr para se pôr de novo no caminho do patrão.
-Bom dia meu menino! Como te chamas?
- Pedro, meu senhor. Chamo-me Pedro.
-Então, mas nesta terra todos os moços se chamam Pedro?
- Sim, meu senhor. Isto por aqui há muitos poucos moços e todos nós nos chamamos Pedro.
- Pois vens tu então para trabalhar comigo.
Ao chegarem ao monte, o patrão resolve fazer-lhe um teste para garantir que seria bom funcionário e não faria disparates.
- Olha diz-me lá uma coisa: o que é que eu sou?
- É um homem, respondeu o Pedro.
- Não. Sou um papa-cristo. E oque tenho vestido?
-Umas calças.
- Não, são umas tiras e viras. E calçado?
- Sapatos.
- São sarapitacos. O que é que está aqui ao meu lado?
- Isso é um gato.
- São papiratos. E ali a arder o que é?
- Aquilo é o lume, senhor.
- Aquilo são crianças, meu menino. E naquela quarta, o que é?
- Água.
- Aquilo é abundância. E ali.
- Ali estão os chouriços.
- São padres e internos. E ao lado, o que está?
- Linguiças.
- São almas e santos. E onde me vou deitar, o que é?
- É uma cama.
- Não! São folgas vianas. Não te esqueças destas coisa que amanhã pela manhã já tas pergunto para ver se podes ficar com o trabalho.
Com medo de se esquecer do que o patrão lhe tinha ensinado, o Pedro nem sequer pregou olho.
Pois estando sem nada que fazer, resolveu pegar fogo ao rabo do gato. Ao ver o gato assanhado resolveu esconder as linguiças dentro do alfurge que tinha nas costas.
Quando o patrão acordou, assustado com tudo o que se estava a passar, ouviu o Pedro dizer:
Levanta-te oh papa-cristos debaixo das folga-vianas, veste as tuas tiras viras
E calça os teus sarapitacos e acode ao teu papiratos que vai com as crianças. Acode-lhe pois com abundância e fica cá com os padres e internos que eu vou com as almas santas.
E em dizendo isto saíu porta fora.
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