ISIDORO

   "Quando se aposentou, os colegas ofereceram-lhe uma jantarada no Luís dos Leitões e uma cana de pesca. Isidoro odiava a pesca e odiava leitão. Mas pôs cara alegre, era o seu último dia com farda. Durante o jantar o Chefe fez um discurso e o guarda Isidoro agradeceu emocionado a todos, permitindo-se sugerir que arrumava as botas com a sensação do dever cumprido. Trinta e cinco anos na Polícia, uma folha de serviços imaculada e dois louvores. Assim, não conseguiu evitar que o Chefe o apresentasse como exemplo aos mais novos, nem que a Subchefe Suzete (que ele tinha por carreirista do pior) lhe desse dois beijos.
   Por alturas do pudim já Isidoro estava a ferver. Uma dor de lado. Uma vontade enorme de pescarias. Bem que tentou engolir o molotov, mas foi incapaz. Quando vieram os brandies para a mesa, Isidoro despejou o saco, chamou-lhes tudo. Tudo a todos.
   De coração aliviado recebeu, juntamente com a conta, voz de prisão.
   Ao menos assim não saía da esquadra tão cedo."

 Alface, in "Cuidado com os rapazes"
    

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