Livro da Semana


A minha boca parece um deserto

de 

Jorge Serafim
il. José Francisco



"Depois de dez dias passados a contar em Cabo Verde, nas ilhas de Santiago e de São Vicente, a minha filha, Georgina, na altura com cinco anos e meio, deu-me a frase que fez esta história. Apreendeu a aridez da terra e a perseverança que está na alma dos caboverdianos. Na véspera de regressarmos, à noite na biblioteca do instituto Camões-Mindelo, a sede impacientava-a. A mãe dizia-lhe: aguenta um bocadinho, filha. O pai é que tem as garrafas de água. Não o podemos interromper. Está a contar histórias. Mas mãe, devolveu decidida a minha filha: tenho tanta sede, tanta sede que a minha boca parece um deserto!
Quando Aurora, a mãe, me contou, esverdeou-se-me o coração. A poesia pintou a ilha. Esta é uma homenagem a todas as frases belas com as quais me sinto premiado enquanto pai."

"A terra, comovida, germinou vida a perder de vista. Sinais de verdura começaram a despontar aqui e acolá. Cores às quais os olhos já não estavam habituados, surgiram em flores, em árvores, em milho, em batata-doce, em... Pareciam automáticas. Lágrima na terra a cor desenterra, pensei. A minha avó e a minha mãe regressavam ao nosso abraço e não parávamos de hidratar as suas mãos, para que estas retomassem a engravidar a esperança."

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