Livro da Semana


Madrugada suja

de

Miguel Sousa Tavares


"E agora, de volta à minha aldeia, onde a luz eléctrica chegara tarde demais para os homens, madrugada dentro, eu lia o «Guerra e Paz». Numa aldeia morta, numa noite deserta, seguia, como se estivesse a ver, o esplendor dos salões de baile do Império Russo, a imensidão das estepes gélidas, os gritos de horror dos estropiados pelo fogo dos canhões de Napoleão Bonaparte, e chegava-me mais ao calor da lareira para não sentir a solidão das trincheiras de lama, húmidas, frias, desoladas, onde se abrigava o exército de Kutúsov. Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e comida, mas que viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver."


"No princípio há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que persegue os seus protagonistas durante anos.

Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua aldeia e tudo o que lá aprendeu.

As circunstâncias do seu trabalho num pequeno município do litoral levam-no a tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele enreda-se na trama, ao mesmo que esta se confunde com o seu passado esquecido, por força da intervenção de uma jovem magistrada de instrução criminal.

Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o destino dessa aldeia e em simultâneo o dos protagonistas daquela madrugada suja e daquela intriga política.

Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em ordem o caos aparente."

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