A estrada para Samarra

     Certo dia, um mercador de bagdad estava a bebericar uma limonada no seu jardim, quando um dos criados veio a correr ter com ele, atirando-se a seus pés.
     - Amo! - gritou ele. - Salvai-me! Acabei de ver a Morte a passear pelo jardim. Ela olhou-me directamente nos olhos e tenho a certeza que veio por minha causa. Amo, suplico-vos, emprestai-me um cavalo para eu fugir para longe, para onde a Morte não me possa encontrar!
     - Pega no cavalo mais veloz do meu estábulo - disse o mercador. - Mas para onde irás tu?
     - Eu tenho um primo que vive em Samarra. Consigo chegar lá ao anoitecer.
     - Então parte imediatamente - disse o mercador. - Tens a minha bênção.
     E lá partiu o criado, como se o diabo estivesse no seu encalço.
     O mercador foi passear pelo seu jardim até que avistou a Morte, ainda no local onde o criado a havia deixado. Este mercador era um homem sábio, não tinha receio de enfrentar a Morte.
     - Porque ameaçaste o meu criado agora mesmo?, - perguntou-lhe.
     A Morte sacudiu a cabeça e sorriu: - Assustei-o? Não era meu propósito. Acontece que fiquei estupefacta por me deparar com ele aqui, em Bagdad, pois é suposto encontrar-me com ele, ao anoitecer, em Samarra.

Celeste Pereira (adaptação), in "Contos divertidos"

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