Uma surpresa para o pai

O Pedro e o Paulo resolveram fazer uma surpresa no dia do pai.
Pegaram na mangueira, numa esponja e lavaram-lhe o carro, que estava mesmo a precisar de uma limpeza valente. Ficou lindo, a brilhar. Depois foram para casa e esperaram que o pai chegasse às sete horas, como de costume. Era tão distraído que, se calhar, nem ia reparar no automóvel e ia limitar-se a perguntar:
- Então, rapazes, que fizeram hoje?
E eles iam mostrar-lhe o que tinham feito.
Mas o relógio marcou as sete e... nada.
Foram esperá-lo à paragem da camioneta que ficava ali em frente. Passaram as sete e meia, as oito, e o pai sem chegar. Que lhe teria acontecido?
O Paulo começou logo a pensar em desastres e doenças.
Voltaram, tristes, para casa. Mal tocaram no jantar. Não quiseram saber da consola. Puseram-se os dois à janela, à espreita. Nem o telefone tocava. Eram dez da noite quando o pai, finalmente, chegou. Vinha cansado mas com o sorriso de sempre e não deixou de perguntar:
- Então, rapazes, que fizeram hoje?
Os gémeos nem contaram a surpresa que tinham preparado. Queriam era saber o que tinha acontecido para ele vir tão tarde.
- Alguma coisa correu mal? - perguntou o Paulo.
O pai então tirou da algibeira um papel e perguntou:
- Sabem o que é isto? Uma surpresa...
- Bilhetes para o cinema?
- O talão do Euromilhões?
Por mais que puxassem pela cabeça, os garotos não descobriam.
- São reservas para a semana na neve durante as férias da Páscoa.
Os dois saltaram de contentamento.
Mas a mãe também estava intrigada com o atraso.
- E demoraste três horas na agência de viagens?
- Não - respondeu. - Fui lá na hora do almoço. Comecei a fazer umas horas extras porque o dinheiro não cai do céu. Esqueci-me de avisar.
O Pedro então disse:
- Obrigado. Muito obrigado. Tu és o máximo. Mas hoje é o dia do pai e nós também temos uma surpresa. Vem connosco até lá fora.
- Deixem o vosso pai jantar primeiro - insistia a mãe.
Mas quem os conseguia parar? Um puxava pelo casaco, o outro pelas calças, e só largaram o pai quando ele se aproximou do carro.
A luz dos candeeiros não brilhava tanto como o sol da tarde, mas dava para ver o carro fora lavado.
O pai abraçou-os e exclamou, orgulhoso:
- Vocês é que são o máximo!

Luísa Ducla Soares in "O livro das datas"

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