Poema da Semana

Língua mater dolorosa
(que dedico ao acordo ortográfico)

Tu que foste do Lácio a flor do pinho
dos trovadores a leda e bem-talhada
de oito séculos a cal o pão e o vinho
de Luiz Vaz a chama joalhada.

Tu o casulo o vaso o ventre o ninho
e que sôbolos rios pendurada
foste a harpa lunar do peregrino
tu que depois de ti não há mais nada,
eis-te bobo da corja coribântica:
a canalha apedreja-te a semântica
e os teus versos feridos vão de maca.

Já na glote és cascalho és malho és míngua,
de brisa barco e bronze foste a língua;
língua serás ainda … mas de vaca.

Natália Correia, in "Poesia Completa"

Comentários