S. CRISTOVÃO

   "Era zona de muitos desastres e ao domingo o povo da aldeia aglomerava-se junto à curva da morte para ver os desastres e fazer apostas. As modalidades possíveis eram: apostar no número de mortos e feridos entre as oito da manhã e as oito da noite; o tipo de veículos envolvidos (ligeiros ou pesados, nacionais ou estrangeiros) e a cor dominante dos veículos envolvidos. Como a aldeia ficava distante da outra civilização, também se apostava sobre o tempo que levariam a chegar os primeiros socorros. Num domingo de Outono, em que o piso se apresentava particularmente húmido e escorregadio, as gentes da aldeia postaram-se de chapéus-de-chuva e banquinhos à saída da curva, na certeza de um dia de apostas em cheio. O primeiro despiste foi de um camião cisterna carregado de gasolina, que se incendiou espalhando morte e desolação entre os aldeões. A partir daí, decidiu o Governo acabar com a curva da morte e agora eles ficam à espera do Totoloto na televisão, mas não é a mesma coisa."

Alface, in "Cuidado com os rapazes"

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