A RAPOSA E A CEGONHA

"Era uma vez uma raposa muito sabida e cheia de manha.
Era uma vez uma cegonha que, apesar de menos manhosa, não gostava de ser enganada . As duas tinham tido uma zanga havia já muito tempo. Por isso, a raposa achou que tinha chegado a altura de pregar à cegonha uma bela partida.
Um dia foi ao encontro da cegonha e disse-lhe com uma voz muito agradável e bem simpática:
-Comadre cegonha, já chega de andarmos zangadas. Podemos voltar a ser boas amigas e tornar a dar uns belos passeios... Convido-a para almoçar amanhã na minha casa. Prometo que farei umas migas bem gostosas e tudo voltará a ser como dantes.
A cegonha não hesitou e, no dia seguinte, apresentou-se em casa da raposa à hora do almoço.
Num instante, ficou tudo pronto. A raposa serviu as migas espalhadas numa grande travessa e não tardou a comer quase metade da refeição.
Por outro lado, a cegonha, com o seu bico tão fino e comprimido, quase nada conseguiu comer e, num abrir e fechar de olhos, todas as migas foram devoradas pela raposa.
A cegonha percebeu o que a raposa lhe tinha preparado e disse:
-Obrigada, comadre raposa! Também eu, amanhã, a convido para um belo jantar na minha casa.
E no dia seguinte, à hora do jantar, lá se apresentou a raposa pronta para se deliciar com as papas que a cegonha lhe tinha preparado.
Mas estava bem enganada, pois na garrafa onde foi servido o jantar só a cegonha conseguia meter o bico fino e comprido.
A raposa, esfaimada, apenas se contentou com o pouco que a cegonha ia deixando cair e, vendo-a tão regalada com o repasto, acabou por perceber a vingança da comadre.
Vê lá bem o que preparas,
Se queres outros enganar...
Pois, às vezes, sem dares conta,
Acabas tu por pagar!

Jean De La Fontaine in "A raposa e a cegonha"

Comentários