Poema da Semana

RUA WATT

Quando lá 'tive
Pela primeira vez
Era em Fevereiro
Mas não havia frio
Vadios dormitavam
Nas grelhas fumegantes
E os moinhos giravam
Na noite murmurante
Eu estava com o Raymond
que me disse meu mono
Tens de acordar
não há nada como a rua Watt

Uma rua de colunas em fila
Onde nunca ninguém passa
Há somente no ar
Linhas de comboio
Onde se cruzam lanternas
Levadas por gente baixa
Com tacões que batem
Nas áleas gradeadas
Nas colunas de bronze
Trazidas do Partenon
Chamam-lhe rua Watt
Por ser a mais vate

É uma rua aberta
É uma rua coberta
É uma rua deserta
Que sobe nas duas pontas
Gatos descoloridos
Esgueiram-se a direito
Sem nunca se deter
Como lá nunca chove
De dia é menos giros
Então vai-se de noite
Pra arrastar as sapatas
Por cima da rua Watt

Há ruas badaladas
Sem grande coisa ter
Umas ruas sem caráter
Um tudo nada putanheiras
Mas nos confins de Paris
Ao pé da gare de Austerlitz
Preguiçosa e virgem
Repousa a rua Watt
Um dia hei-de comprar
Alguns metros quadrados
Pra plantar uns tomates
No fundo da rua Watt.

Boris Vian in "Canções e Poemas"

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