O Arco do Triunfo

Um rei vaidoso e tolo meteu na cabeça que devia ficar muito bem a passar por um Arco do Triunfo montado no seu cavalo. Infelizmente, o seu país não tinha nenhum arco, por isso, mandou construir um. Quando ficou pronto, reuniu os seus súbditos para que viessem vê-lo a passar por baixo dele montado no seu cavalo
Chegou o grande dia e todos se reuniram para ver tão magnífico espectáculo. O rei vestiu o traje mais requintado, subiu para o seu cavalo e dirigiu-se majestosamente para o arco. Infelizmente, este era demasiado baixo, e quando o rei chegou ao pé dele, bateu-lhe com a cabeça, sendo atirado para fora da sela e caindo no chão. A multidão explodiu em sonoras gargalhadas diante de tão inesperado e cómico episódio, chegando mesmo alguns dos cortesãos a rir à socapa por detrás das mãos abertas.
Furioso com aquela humilhação, o rei levantou-se com modos tão dignos quanto possível, e declarou que encontraria o responsável por aquele ultraje e que essa pessoa seria decapitada. O julgamento foi imediatamente preparado, e a primeira pessoa a comparecer foi o arquitecto.
- A culpa não pode de modo nengum ser minha - disse o arquitecto com arrogância. - Eu sou altamente qualificado. Frequentei a melhor universidade do país. Posso apresentar inúmeras cartas de recomendação. A culpa tem que ser dos pedreiros, que construíram o arco. Eles devem ter-se enganado a ler o meu projecto.
- A culpa não é nossa! - disseram os pedreiros ao comparecerem no tribunal. - Nós seguimos o projecto e construímos o arco tão alto quanto podíamos. A culpa dever ter sido dos carpinteiros que levantaram o tablado; eles devem tê-lo construído excessivamente baixo.
- A culpa não é nossa! - disseram os carpinteiros antes sequer do juiz ter tempo de ler a acusação. - Usámos toda a madeira que nos foi dada para o tablado. Não, a culpa não é nossa. A culpa deve ser do cavalo do rei, que é demasiado alto. - E, deste modo, o cavalo do rei teve que comparecer no tribunal.
- PBRRRRRR! - respondeu o cavalo. - Ouçam, a culpa não é minha. Não faz qualquer sentido acusarem-me de nada, porque não passo de um simples cavalo. Mas, se querem saber da minha opinião, para mim o problema é evidente. A questão é que a cabeça do rei é demasiado grande!
- Sim! - disseram todos os que estavam presentes no tribunal. E foi assim que se decapitou o rei.

Tim Bowley in Sementes ao vento: histórias do mundo

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