Poema da Semana

Era o instante para a salvação de meus outonos,
e como qualquer homem a fé me faltou,
em ausência do vento destinado,
da temeridade com que a árvore se mantém.

Me preveni da beleza,
e suas melancolias passageiras,
me preveni da lembrança pelos muros,
das dobras do naufrágio;
mas fiquei sem mãos na fuga,
na traição do ar,
e este roçar de trópico insular.

Parti, fiel à insônia,
à cegueira inevitável do poeta
e a inutilidade de minha esperança,
meu talismã foi um coração de cão,
alma dócil envenenada por sua lealdade.

Era o instante para a salvação de meus outonos,
pressenti a cegueira, o arame invisível que assassinou meus olhos,
o lodo que em meu coração endurecia.
Como última lembrança a águia
disposta a alimentar-se com minhas carnes,
a mariposa, e seu parto de lagartas em minha língua.


Abel Facundo

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