Poema da Semana

Achava que não podia ser magoada;
achava que com certeza era
imune ao sofrimento —
imune às dores do espírito
ou à agonia.

Meu mundo tinha o calor do sol de abril
Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.
Minha alma em êxtase, ainda assim
conheceu a dor suave e aguda que só o prazer
pode conter.

Minha alma planava sobre as gaivotas
que, ofegantes, tão alto se lançando,
lá no topo pareciam roçar suas asas
farfalhantes no tecto azul
do céu.

(Como é frágil o coração humano —
um latejar, um frêmito —
um frágil, luzente instrumento
de cristal que chora
ou canta.)

Então de súbito o meu mundo escureceu
E as trevas encobriram a minha alegria.
Restou uma ausência triste e doída
Onde mãos sem cuidado tocaram
e destruíram
a minha teia prateada de felicidade.
As mãos estacaram, atónitas.

Mãos que me amavam, choraram ao ver
os destroços do meu firma
-mento.
(Como é frágil o coração humano —
espelhado poço de pensamentos.
Tão profundo e trémulo instrumento
de vidro, que canta
ou chora.)

Sylvia Plath

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