Alguém
Era uma vez uma rapariga que, ao crescer, começou a sentir que tudo era demasiado difícil para ela. Sentia-se sozinha quando tinha de tomar uma decisão; sentia-se sozinha quando tinha de viver uma experiência triste ou dolorosa; sentia-se sozinha quando tinha de enfrentar problemas; sentia-se sozinha mesmo quando tinha alegrias! E, com tudo isto, sentia-se cansada e sem ânimo para avançar.
Começou então a desejar, a desejar com muita força, ter um amigo. Desejou ter a seu lado alguém com quem pudesse partilhar as tristezas, alguém com quem pudesse partilhar as decisões, alguém com quem pudesse partilhar os problemas, e alguém com quem pudesse partilhar os momentos bons da vida! Desejou ter a seu lado alguém que lhe desse ânimo e que estivesse sempre com ela, que a aliviasse do peso que a vida lhe estava a causar.
Desejou com tanta força, que certo dia surgiu, ao seu lado, uma figura. Esta figura sorriu-lhe e perguntou-lhe o que podia fazer por ela. A rapariga, depois de dissipada a estranheza, resolveu arriscar. Explicou então o que queria. Disse-lhe que não queria estar sozinha nos momentos difíceis; não queria tomar decisões sozinha; queria ter alguém com quem partilhar as coisas boas. Queria ajuda!
A figura sorriu novamente. Disse-lhe:
- Podes contar comigo. Vou estar ao pé de ti quando te sentires triste. Vou ajudar-te a ponderar as decisões. Vou ajudar-te a entender os problemas e a resolvê-los. Vou dar-te forças e fazer-te sentir feliz a cada dia que passa. Vou estar sempre ao pé de ti. Vou estar sempre contigo. Só preciso que nunca duvides disso.
A rapariga, depois de um novo momento de perplexidade, ficou tão feliz, tão contente por se sentir acompanhada, que, num impulso, abraçou esta figura. Foi nesse momento que tudo aconteceu. Ao abraçá-la, a figura fundiu-se na rapariga. Elas não eram mais do que a mesma pessoa, duas partes da mesma mente.
A partir desse momento a rapariga recuperou as forças e a tranquilidade, a alegria. Sentia-se bem. Sentia-se acompanhada por si mesma. Sabia que, bem dentro de si, havia essa parte que estava sempre, sempre, com ela, e nunca duvidou disso...
Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela, in "Histórias para contar consigo"
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