Faleceu hoje o poeta cabo-verdiano João Vário, um dos mais representativos da poesia em língua portugesa, que assim está um bastante mais pobre. E então subimos aquele grande rio e as portas do Ródão, chamadas. Era em abril dois dias depois da neve e da cidade dos nevões, na serra. E olhamos para os penhascos da beira-rio, as oliveiras, o xisto, a cevada as ervas de termo, e as colinas. E, junto da via férrea, os homens do pais miravam-nos como se fossemos nós e não eles os mortos desta terra, homens do medo e do tempo da discórdia que trazem para o cimo das estradas a malícia que vai apodrecendo seus pés neste mundo e em terras de outrém. Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável, os homens,perdidos que estais, hoje como ontem, entre a casa e o limiar? E evocamos, mais uma vez, esse provérbio sessouto. E, na verdade, porque regressaremos, após tantos anos, a este tema? Será que a morte nos ensinou a olhar para o homem com pavoroso êxtase?