"Há bocado os miúdos estavam lá fora, no condomínio, a jogar à bola, como acontece sempre que o tempo permite. Eram, no total, seis miúdos, mas às vezes são oito, outras vezes mais de dez, todos das mesmas idades, todos rapazes, todos a aproveitar o tempo até chegar a primeira voz de comando de uma mãe ou de um pai que chama para jantar. De repente, o sistema de rega automática disparou. E o Martim não resistiu. Deixou-se encharcar até às cuecas. Rodava na direcção da água, ria que nem um perdido, batia com os pés na terra feita lama, feliz. Da sua varanda, a minha mãe acenava, desesperada. Gritava com ele, que não podia ser. Gritava comigo, que vivo em frente, para o mandar para casa. Sentei-me no terraço, encolhi os ombros e fiquei, enternecida, a vê-lo, tão feliz, tão livre, tão criança. Este é o grande paradigma que marca a grande diferença entre mim e a minha mãe. Naquela cena, ela viu falta de regras... e doença. Constipação, gripe, pneum...