"A sequência, aparentemente lógica, de uma biografia é simples: nascemos no dia tal do ano da graça de x, vamos ou não para a escola, arranjamos um emprego ou outra atividade parecida, temos mulheres ou mulher, temos filhos ou não, somos mal ou bem-sucedidos, fazemos qualquer coisa de maior ou menor importância - o critério é à vontade do freguês -, envelhecemos e morremos. Tudo isto como uma história contínua, sem retrocessos e, sobretudo, como se cada período da nossa vida matasse o outro ou, em alguns casos, o condicionasse. Uma espécie de escada, em que a subida de um degrau fizesse desaparecer o anterior. A biografia parte sempre do princípio de que a única verdade é a existência ou o momento.Que o que fazemos é o que vivemos numa dada altura. Como se o que está no passado fosse apenas um prefácio do presente. Despreza a nossa vida mais íntima: a insegurança nas nossas decisões, os nossos medos mais inconfessáveis, as nossas memórias - tantas vezes mais...