Puku Kambundu e a sabedoria: uma fábula angolana
"Foi muito antigamente.
Dois amigos, o senhor Dibengu Kanjungu, branco, era comerciante; o senhor Puku Kambundu, preto, agricultor.
Discutiam sempre- sempre.
Então, um dia, o senhor Kajungu falou:
- Eu, na minha casa, não há coisa que não tenha!
O senhor Kambundu respondeu:
- Mentira! Na tua casa posso encontrar uma coisa que tu não tens!
Zangou-se o senhor Kanjungu:
-Encontrar o que não há? És parvo! A nós não nos falta nada.
Apostaram.
O senhor Dibengu Kanjungu ficou na quitanda dele; o senhor Kambundu voltou na lavra dele. Então, Puku Kambundu começou de fazer uma esteira. Quando faltava pouco para acabar, acabaram as cordas. Foi na quitanda do senhor Kanjungu. Chegou. Bateu à porta na janela, disse:
-Senhor! Comecei uma esteira mas falta corda. Tens, na tua casa?
O senhor Dibengu Kanjungu riu muito, disse:
-Entra! Não há coisa que não tenha! Puku Kambundu entrou no armazém, encontrou as cordas. Falou:
-Vou te pagar a aposta! Te dou te esta esteira. Só tens que lhe acabar.
O senhor Kanjungu zangou-se de novo. Insultou:
-És parvo! Como é que vou acabar? Não sei fazer esteiras!
Aí, o senhor Puku Kambundu é quem riu, disse:
-Se tu pensas que tens tudo é porque te falta alguma coisa!
E recebeu-lhes as 10 macutas da aposta.
Tenho dito."
José Luandino Vieira in "Puku Kambundu e a sabedoria: uma fábula angolana"
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