"Elisa tinha 31 anos, 5 filhos, um marido inválido, uma vaca uma égua - uma vida pela frente. «Fui a rainha das mulheres», dizia ela. Em quê? Ao longe vê-se o monte da fronteira, suave, dissimulado entre as arestas das espalhafatosas casas de emigrante. Elisa, hoje com 71 anos, prime os lábios como quem retesa um arco. e dispara: «Fui a rainha das mulheres». Quando o marido adoeceu, com a úlcera varicosa que o impediu para sempre de trabalhar, tinha o filho mais velho, Fernando, 11 anos. De repente, era ele o homem da casa. De madrugada, enquanto as outras crianças dormiam, Fernando e Elisa saiam para a sua aventura. Geralmente era ela que ficava do lado de cá, a vigiar, segurando a égua. Fernando, ágil e leve, atravessava a fronteira, saltando o ribeiro, pegava na mercadoria e corria com ela até ao dorso da égua. Depois era só galopar em direcção à aldeia. Divertia-se como ninguém. Mesmo quando ficava ele com a égua, atento aos guardas que faziam o plantão. Elisa atraves