"Vânia tem vinte e três anos, nasceu em Brasília, onde vive com um namorado português, meu amigo de infância, que lhe prometeu mostrar a pátria assim que pudesse. Caíram-me há dias no colo. Traziam no corpo mais de dois mil quilómetros em estradas portuguesas, e agora ela queria conhecer Lisboa. «Tenho um almoço de negócios», disse-me ele ao telefone, «podes tratar dela esta tarde?» Nunca fui grande cicerone, ainda por cima agora, que um vírus qualquer anda a fazer-me a vida negra, provocando-me tantas dores no corpo e um tal cansaço que parece que passo dias inteiros na estiva. Mas eu não podia dizer que não ao Luís, que tantas neuras me tem aturado nestes últimos meses, e lá fui apanhar a Vânia à esplanada da Brasileira - completamente fascinada pelas pessoas, pelo bacalhau, pelos pastéis de nata, pelos ovos-moles, pelos palácios, pelas caves de vinho do Porto. Desde que o avião aterrara, não tinham tido um minuto de descanso, cumprindo à risca